Alemanha tinha tanta energia elétrica no Natal que precisou pagar às pessoas para elas usarem
Em tempos de bandeiras tarifárias, parece impossível existir um superávit de energia elétrica. No Brasil, realmente é um fato distante da realidade; mas, na Alemanha, a história é diferente: durante o final de semana do Natal, a produção de energia limpa no país superou a demanda de uso, e foi preciso pagar para as pessoas, em vez de cobrá-las. E não é a primeira vez que isso acontece.
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Essa superprodução, no entanto, não é constante. Apesar da Alemanha ter investido US$ 200 bilhões em fontes de energia limpa nas últimas duas décadas, ainda existem muitas plantas energéticas nucleares e de carvão – e elas são parte fundamental para que os preços de energia renovável fiquem abaixo de zero em alguns momentos.
Como isso acontece?
Os preços chegaram abaixo de zero no final de semana do Natal por conta do clima quente e dos fortes ventos na região das usinas de energia solar e eólica da Alemanha. Além disso, muitas fábricas e empresas estavam inativas, o que derrubou drasticamente a demanda por energia.
Quando isso acontece, as plantas de energia renovável não conseguem armazenar o que é produzido, e os outros meios, como carvão e energia nuclear, não conseguem reduzir a produção a tempo – é difícil prever rapidamente quando a produção de energia limpa vai aumentar ou diminuir.
Esse conjunto de fatores fez com que algumas pessoas e empresas (que conseguissem gastar muita energia) ganhassem um crédito de US$ 60 por megawatt-hora.
Diversos países europeus já passaram por situações similares, incluindo Bélgica, França, Reino Unido, Holanda e Suíça. Mas a Alemanha é campeã de superprodução, tanto que, de vez em quando, vende o excesso para países vizinhos – em um final de semana de outubro de 2017, por exemplo, os preços ficaram abaixo de zero por 31 horas, chegando a gerar um crédito de US$ 98 por megawatt-hora para os grandes consumidores.
Os consumidores não recebem nenhum dinheiro na conta bancária, nem mesmo deixam de receber a conta de luz. Isso porque a geração de energia representa, em média, apenas 15% dos custos de uma conta de eletricidade por lá. O restante do valor inclui impostos, taxas de financiamento para investimento em energia limpa e encargos pelo uso da rede. Às vezes, os preços sobem, também. Em compensação, quando ocorre esse superávit, os cidadãos recebem um desconto diluído.
Estima-se que, no mundo todo, a energia limpa crescerá mais do que qualquer outra fonte nos próximos cinco anos. Enquanto isso, no Brasil está rolando uma proposta na Câmara para cobrar royalty sobre o vento – seríamos pioneiros nesta cobrança.
[New York Times]